terça-feira, 10 de abril de 2012

ABRIL,ABRIL E A FOME

Sobre esta enorme estrumeira nauseabunda em que se transformou o poder há-de abrir uma flor vermelha,uma papoila,ou um cravo de abril,nem que seja no solstício do Inverno.

Até o verdelhão está desconfiado.


* *

Não,não vou pôr link,vai mesmo o texto todo:



A POBREZA ENVERGONHADA


A FOME NAS ESCOLAS


"Ontem, uma mãe lavada em lágrimas veio ter comigo à porta da escola. Que não tinha um tostão em casa, ela e o marido estão desempregados e, até ao fim domês, tem 2 litros de leite e meia dúzia de batatas para dar aos dois filhos.Acontece que o mais velho é meu aluno. Anda no 7.º ano, tem 12 anos mas,pela estrutura física, dir-se-ia que não tem mais de 10. Como é óbvio,fiquei chocado. Ainda lhe disse que não sou o Director de Turma do miúdo e que não podia fazer nada, a não ser alertar quem de direito, mas ela também não queria nada a não ser desabafar.De vez em quando, dão-lhe dois ou três pães na padaria lá da beira, que ela distribui conforme pode para que os miúdos não vão de estômago vazio para aescola. Quando está completamente desesperada, como nos últimos dias, ganha coragem e recorre à instituição daqui da vila – oferecem refeições quentes aos mais necessitados. De resto, não conta a ninguém a situação em que vive,nem mesmo aos vizinhos, porque tem vergonha. Se existe pobreza envergonhada,aqui está ela em toda a sua plenitude.Sabe que pode contar com a escola. Os miúdos têm ambos Escalão A, porque o desemprego já se prolonga há mais de um ano (quem quer duas pessoas com 45anos de idade e habilitações ao nível da 4ª classe?). Dão-lhes opequeno-almoço na escola e dão-lhes o almoço e o lanche. O pior é à noite e sobretudo ao fim-de-semana. Quantas vezes aquelas duas crianças foram para a cama com meio copo de leite no estômago, misturado com o sal das suas lágrimas…Sem saber o que dizer, segureia-a pela mão e meti-lhe 10 euros no bolso.Começou por recusar, mas aceitou emocionada. Despediu-se a chorar, dizendo que tinha vindo ter comigo apenas por causa da mensagem que eu enviara na caderneta. Onde eu dizia, de forma dura, que «o seu educando não está minimamente concentrado nas aulas e, não raras vezes, deita a cabeça no tampo da mesma como se estivesse a dormir».Aí, já não respondi. Senti-me culpado. Muito culpado por nunca ter reparado nesta situação dramática. Mas com 8 turmas e quase 200 alunos, como podia ter reparado?É este o Portugal de sucesso dos nossos governantes. É este o Portugal dosnossos filhos."


Por Arnaldo Antunes.

Se não sentes um nó no estômago e uma raiva a revolver as vísceras que dá vontade de gritar,lutar,até que os ladrões fujam,não tarda que a mesma situação te bata à porta.


É possível uma vida digna,está nas nossas mãos

mário

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